quinta-feira, 14 de julho de 2016

Casual












Casual

  


Passos na orla
Corpo contra o vento
Galerias de paredes circulares

Cachos de palavras
Raras e distantes sobre a crista das marés
Despejadas sobre a areia

E agora
Livres do furor
Esperam ser colhidas

E urdidas
Na configuração

De um poema casual.

domingo, 18 de julho de 2010

A fé e o degrau inexistente


A água - a fé
Infinitamente coada,
Mil vezes filtrada.

Isenta de todo,
Qualquer microscópico
Racional resíduo.

Enfim,
A fé - a água
Naturalmente pura.

Agradável néctar
No céu da boca
de Deus.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Controle remoto



A um minuto
do derradeiro suspirar

Decerto alguma força súbita
me virá

E então acionar
Stand by.


Em recalcitrância
Adiar
Em consonância
Prorrogar.

Até que o tédio me invada,
Se alastre
Pela periferia das minhas
fronteiras

E nada mais reste
que me apraza.

E então acionar
Off.

sábado, 3 de julho de 2010

A CASA É NOSSA, JESUS!




“O Senhor já tem visitado algumas pessoas aqui presentes nessa noite...”
Assim dizia o pastor no fechamento de sua mensagem no culto deste sábado. E eu fiquei imaginando de repente ouvir palmas no portão do meu casebre melancólico naquela noite fria.
Era Jesus. O próprio senhor Jesus que descia da sua realeza na eternidade, com suas vestes resplandecentes, seu cajado de ouro cravejado de diamantes, safiras e rubis, seu olhar cândido e sua voz adocicada me chamando pelo meu nome e trazendo o seu abraço aconchegante, de imaterial conforto. Sua imensurável misericórdia e acima de tudo, o renovo para minha combalida esperança.
Não meu caro pastor. A visita do Senhor Jesus para mim é pouco, insuficiente, é quase nada. Quero mais. Quero Jesus como um familiar, um morador habitual da minha casa, parceiro de quarto, dividindo a veneziana voltada para o bosque, o tubo de creme dental e a garrafa de água sobre a mesinha antiga de madeira de lei. Quero Jesus como um amigo, um confidente para as eventuais noites de insônia e para sempre, definitivamente incrustado na minha vida.
Penso que a fonte das tormentas e incertezas que acompanha as pessoas está localizada no ‘contentar-se com uma visita de Jesus’. A visita é sim só primeiro passo para um relacionamento consistente e duradouro. Um relacionamento inquebrantável com Jesus.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Muito velho pro Rock'n'roll. Muito jovem pra morrer.



Muito velho pro Rock'n'roll. Muito jovem pra morrer.

"Vai ter com o Niemeyer, ó preguiçoso! Olha para os seus caminhos e sê sábio!!!"
O grito áspero de Deus, diretamente da garganta proverbial do Salomão atordoou os meus sentidos debilitados, ecoando dentre os 500 e tantos recantos cavernosos da minha alma naquela fatídica manhã deserta de um dia qualquer.
Uma repreensão. Sim. Dura, violenta como o estrépito do trovão, mas paradoxalmente paternal. Um tapa na minha cara destituída de óleo de peroba, com o claro e divino propósito de abalar minhas estruturas de aposentado semimorto. Me empurrar pro ringue.
Aliás, o que é isso? Como pode alguém que sempre alfinetou as duas bandas de bundas murchas, sugadas até certo ponto por um amontoado de horas, meses, cacetes, assédios moral e semanas anotadas num cartão de ponto perfurados pelo honorável sr. Getúlio. Bundas estas cobertas por um tecido geralmente branco, fino, em forma de uma lamentável bermuda cujos canos moles entubam um par de pernas finas, tatuadas naturalmente por linhas veias azuladas permeadas por uma penugem rala e que se esvaem até às ridículas sandálias de salto, evolução das franciscanas e que terminam suas heróicas jornadas em deprimentes copos sujos ou jogo de damas em praças ipatinguenses, e agora estar - como eles - ansiando que o jornal da manhã atravesse toda a tarde do território brasileiro e que a hora de dormir seja antecipada para que não reste mais tempo para o despertar do sono?
Ora, qual é meu rapaz! Doce é o sono do trabalhador. Aprazíveis os feriados emendados e remendados. Um bálsamo a dissipar a canseira, que certamente voltará depois...
E as férias? Um orvalho, refrigério sobre a vegetação rasteira de uma temporada de horas extras!
Ora! Navegar é preciso, morrer não é preciso...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

entremeio



Entremeio


Alcançaste-me
Escolheste-me

Acolheste-me
Abrigaste-me

Permitiste-me
Pequenino
eu
Dentre Grandioso
DeuS.





sexta-feira, 14 de maio de 2010


O Porteiro da sexta - 14.

Clichê do clichê: A arte, positivamente, imita a vida.
A manhã se apresenta. Céu azul esbranquiçado com pinceladas transversais irregulares em tons vermelho claro/bege.
Como trilha, o silêncio comparte dos começos de dia dos bairros das pequenas cidades, ponteado de pios curtos provenientes dos sabiás suburbanos com seus movimentos histriônicos na pista asfáltica, seguidos do alto dos cabos elétricos e topos de alpendres pelos demais inconsequentes moleques bem-te-vis, tizius (?) e pardais.
A rua é uma esteira estática, provisoriamente fria e vazia a espera dos passos lentos e apressados e primeiros pneumáticos a que certamente será submetida em instantes. Quem viver verá.